segunda-feira, 2 de abril de 2007

64 nunca mais!

Lembro-me perfeitamente, apesar de já terem se passado mais de quarenta anos, do início dos “anos de chumbo”, como ficou conhecido o período obscuro da Ditadura Militar no Brasil. Eu, naquela época, tinha oito para nove anos, era um domingo outonal, estávamos minha mãe e eu, passando o domingo na casa de meus avós, ali na Medianeira. Havia “estourado” a “revolução”, era o que diziam. Meu avô, não queria deixar que saíssemos para irmos para nossa casa, mas minha mãe disse que tinha que ir de qualquer maneira, e fomos. As imagens são nítidas. Embarcamos em um bonde, que fazia a linha da Glória pela Azenha, tudo tranqüilo. Desembarcamos no centro, no Mercado Público, para tomarmos outro bonde que nos levaria até a Vicente da Fontoura, onde morávamos.





Quando chegamos no centro, era visível a inquietação das pessoas, apressadas, olhando para o chão, quem sabe temerosas de serem confundidas com algum “comunista”. Eis que, enquanto esperávamos a condução, ouviu-se dois ou três tiros, vindos lá do lado da Rua da Praia. Algumas pessoas correram, mas minha mãe permaneceu ali a esperar o bonde, que chegou em alguns minutos e fomos para casa, tranqüilos.


Para a minha idade na época, tudo era meio distante naquele momento, mas com o tempo fui entendendo o que ocorria e o porquê de tudo aquilo. Estava instalada a ditadura no Brasil, que duraria até 1985. Mortos, desaparecidos, torturados, mutilados física e psicologicamente, fazem parte dessa triste história.


Lembro-me disso hoje e me sinto privilegiado de ter, de certa forma, vivido isso. Como se diz, fiz parte dessa história. Mas principalmente por estarmos vivendo nesse momento um clima forçosamente parecido que, por vontade de uma mídia que, nos últimos tempos tem sido a mesma mídia golpista daquela época.


Os jornais de hoje, como os daquela época falam em crise militar e quebra da hierarquia, no desfecho de uma a crise aérea. Crise aérea que, nada mais é do que, um resquício do Regime Militar, onde as Forças Armadas se apoderaram do Estado e onde ainda continuam insistindo em permanecer.


Não tenho nada contra os militares, ao contrário, acho que um estado nacional forte se faz com um exército também forte. Mas quando militares excedem essas funções e entram em conflito com outras forças, republicanas de democráticas, está na hora de se repensar as suas funções.
Essa crise aérea, que a mídia golpista insiste em chamar, vergonhosamente de “apagão aéreo”, nada mais é do que a vontade de um “terceiro turno”, pois se não conseguiram impedir um segundo mandato do Presidente Lula, agora tentam forjar uma crise para tirar dividendos, quem sabe, um novo golpe, tal qual aquele de 64.


Estados Unidos já passaram por crise aérea e lá, o serviço de tráfego aéreo passou completamente aos civis. Mais recentemente, na Argentina, o Presidente Kirchner, criou a ANAC, aos moldes da ANAC brasileira, e passou o controle do tráfego aéreo, também, aos civis. No vizinho País, também houve crise, greves mas, tudo foi normalizado.


Espero que aqui também tudo se resolva, e que esses ares golpistas, que muitos tentam instalar, não passe de uma memória, uma homenagem póstuma ao que aconteceu a quarenta anos atrás.

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