quinta-feira, 16 de maio de 2013

Paisagens, leituras, sugnificados e transformações - Editora da UFRGS

Este livro foi o terceiro mais vendido na banca da Editora da UFRGS durante a Feira do Livro de 2012 de Porto Alegre, você pode ver AQUI. Um trabalho coletivo que tem como objetivo subsidiar os estudos sobre a paisagem no Brasil.

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Aqui o meu artigo:

A GEOGRAFIA E O ESTUDO DA PAISAGEM

INTRODUÇÃO

A paisagem, em uma definição mais abrangente, pode ser entendida como a composição de elementos da natureza no espaço, dentre os quais a fauna e a flora, o homem e as edificações que constrói com a sua ação no espaço geográfico. A Geografia enquanto ciência estuda a paisagem por deferentes vertentes do pensamento geográfico de distintas maneiras. Mas todas têm como consenso, que a paisagem, é a materialização resultante da interação do homem e os elementos da natureza.

A paisagem também pode ser tudo que pode se ver num lance de vista ou o “conjunto de componentes naturais ou não de um espaço externo que pode ser apreendido pelo olhar” (HOUAISS, 2001, p. 2105). A polissemia da paisagem traz consigo muitas definições. Entre estas, para Santos (2002), “a paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas reações localizadas entre homem e natureza”. Santos, aqui, agrega à paisagem o fator da temporalidade na sua constituição.

Assim, ao longo da história, as diferentes abordagens sobre paisagem tentam não somente descrevê-la enquanto conceito geográfico. A paisagem é diferenciada e compartimentada entre paisagem natural, que reflete a interação dos elementos naturais (relevo, vegetação, solo, rios, etc.) e paisagem cultural, como o resultado da ação do homem e da sociedade sobre a natureza, da qual resultam os espaços urbanos e rurais. Mas, também, a paisagem como objeto que pode ser sentida pelo homem, trazendo-lhe inúmeras sensações e sentimentos.

Berque (1998) afirma que a paisagem é uma marca, pois expressa uma civilização, mas é também uma matriz, porque participa dos esquemas de percepção, de concepção e de ação – ou seja, da cultura, que canaliza, em certo sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e com a natureza e, portanto, corresponde a paisagem do ecúmeno.

Bertrand (1968), ao propor o estudo de Geografia Física Global, pensou a paisagem como "resultado sobre uma certa porção do espaço, da combinação dinâmica e, portanto, instável dos elementos físicos, biológicos e antrópicos, que, interagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável em contínua evolução". A paisagem também pode ser tida como a “configuração de símbolos e signos” (COSGROVE e JACKSON, 2003, p. 137), sendo que a “linha interpretativa da Geografia Cultural recente desenvolve a metáfora da paisagem como ’texto’, a ser lido como documento social”.

Dessa maneira, o estudo geográfico da paisagem apresenta dois enfoques principais. Um que a considera total e a identifica como o conjunto do meio, contemplando a este como indicador e síntese das inter-relações entre os elementos inertes: rocha, água e ar, e os vivos: plantas, animais e homem. E o outro, que considera a paisagem visual percebida como a expressão dos valores estéticos, plásticos e emocionais do meio.

A paisagem, em seu conjunto, reúne todos esses fatores, e aos quais se adiciona a possibilidade de valores expressivos e de significação cultural. Os mesmos podem compreender conteúdos estéticos e conotações significativas, constituindo-se como um tema de inspiração para o homem.

Ao tratar sobre a origem e a conformação do processo de produção de uma paisagem, seja ela natural ou cultural, intervém um conjunto de fatores geológicos, geográficos e biológicos, que não permitem analisá-la como ente independente do ser humano e sobre sua incidência no mesmo, posto que sua ideologia, desenvolvimento e cultura modificam em maior ou menor grau tais fatores. Essa correlação entre o homem e esses fatores daria lugar à história de uma paisagem. Não se pode realizar uma análise específica de um lugar sem considerar os aspectos gerais, que tornariam esse estudo mais completo.

Em “The Morphology of Landscape”, Sauer (1925) argumenta que a paisagem geográfica é formada pelo conjunto de formas naturais e culturais associadas a uma dada área e analisada morfologicamente, a integração das formas entre si e o caráter orgânico delas. Portanto, a paisagem cultural ou geográfica é uma resultante da ação, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural. Sauer também considera que a “paisagem possui uma identidade, sustentada por uma constituição reconhecível, limites e uma relação com outras paisagens, para construir um sistema geral”.

O estudo da paisagem cultural proporciona uma base para a classificação regional, possibilita um insight sobre o papel do homem nas transformações geográficas e esclarece sobre certos aspectos da cultura e de comunidades culturais em si mesmas. Busca diferenças na paisagem que possam ser atribuídas a diferenças de conduta humana sob diferentes culturas, e procura desvios de condições “naturais” esperadas, causados pelo homem.

A paisagem cultural aborda a associação de características humanas, biológicas e físicas sobre a superfície da Terra (especialmente as que são visualmente perceptíveis), alteradas ou não pela ação humana. Como a paisagem, é considerada a materialização da ação humana no espaço, através da necessidade de adaptação à sobrevivência do homem na natureza, e, atualmente, a sociedade, de alguma maneira, está presente em quase toda a superfície terrestre, podemos dizer que, nessas circunstâncias, não mais existe uma paisagem natural. Haja vista que toda a paisagem, mesmo que aparentemente intocada, já perdeu a sua “naturalidade”, pois foi, segundo Santos (2002), coisificada. Mesmo que o homem não tenha nela colocado os seus pés, já lhe foi atribuído algum significado e, portanto, faz parte de uma cultura, até mesmo de uma cultura capitalista, na qual faz parte o “racionalismo econômico” (LEFF, 2006) a tudo dá valor. Assim sendo, mesmo de maneira genérica, poder-se-ia dizer que toda a paisagem é cultural, pois mesmo nos recantos intocados das florestas tropicais há a incidência dos valores sociais atribuídos pelo homem.

Tomando como base essas definições, podemos dizer que:

”[...] a paisagem que vemos hoje não será a que veremos amanhã e nem tão pouco é a que foi vista ontem, pois a paisagem é produzida e reproduzida no decorrer do tempo, através da ação do homem e da sociedade sobre o território, levando em conta que cada ator social tem seu tempo próprio no espaço. Assim, a paisagem é, por conseguinte objeto, concreto, material, físico e efetivo e é percebida através dos seus elementos, pelos nossos cinco sentidos, é sentida pelos homens afetivamente e culturalmente”. (BERINGUIER, 1991, p. 7)

A PAISAGEM COMO SUPORTE PARA A LEITURA DA PERCEPÇÃO

A percepção da paisagem tem como pressuposto que seja produzida segundo a cultura das pessoas que nela estão inseridas. Assim, não há como entender a paisagem sem levarmos em consideração os preceitos metodológicos e teóricos da Geografia Cultural.

A Geografia Cultural é tida como um ramo das ciências geográficas preocupado com a distribuição espacial das manifestações culturais, como: religiões, crenças, rituais, artes, formas de trabalho; enfim, tudo que é resultado de uma criação ou transformação do homem sobre a natureza ou das suas relações com o espaço, seja no planeta, em um continente, país, etc. Há exemplos dos estudos sobre: "espaço e religião; espaço e cultura popular; espaço e simbolismo; paisagem e cultura; percepção ambiental e cultural; espaço e simbolismo...” (CORRÊA, 1995, p. 03-11).

Atualmente, pode-se pensar na Geografia Cultural como aquela que considera os sentimentos e as idéias de um grupo ou povo sobre o espaço a partir da experiência vivida. Trata-se de uma geografia do lugar. Também pode ser considerada como a dimensão espacial da cultura. Tradicionalmente, desde o começo do século XX, essa dimensão espacial tem sido focalizada por intermédio de temas como os gêneros de vida, a paisagem cultural, as áreas culturais, a história da cultura no espaço e a ecologia cultural. Para Cosgrove (2003, p. 103) “a tarefa da Geografia Cultural é apreender e compreender a dimensão da interação humana com a Natureza e seu papel na ordenação do espaço”.

Como dito anteriormente, é impossível falar na Geografia Cultural sem citar Sauer ou a “Escola de Berkeley”, que denomina a corrente do pensamento geográfico fundamentado a partir de sua obra. A Geografia Cultural surgiu no início do século, na Alemanha: era a “Kulturlandschaft”. Na Geografia Cultural alemã, as paisagens correspondiam a um conhecimento específico, que servia para diferenciá-la das outras ciências.

Essa Geografia considerava a paisagem como uma unidade espacial definida em termos formais, funcionais e genéticos. A primeira obra teórica importante de Sauer foi The Morfology of Landscape. Neste importante trabalho, Sauer estabelece conceitos que fundamentaram a Geografia Cultural, principalmente a norte-americana, entre eles: a valorização da relação do homem com a paisagem (ambiente), que por ele é formatada e transformada em habitat; a análise dessa relação sempre é feita a partir da comparação com outras paisagens, formatadas organicamente, o que gera uma visão integral da paisagem que individualiza a Geografia enquanto disciplina.

Ao longo dos anos, outros conhecimentos vêm fazer parte da Geografia Cultural, enriquecendo as pesquisas geográficas que enfatizam a cultura como agente transformador do espaço. São incorporadas diversas referências teóricas e metodológicas, tais como os ramos da filosofia dos significados, da fenomenologia, do materialismo histórico e dialético e das humanidades em geral.

A esses aprofundamentos também são agregados à Geografia Cultural temas que não eram por ela tratados anteriormente. Nessa mudança, o conceito de cultura é repensado. A cultura não é mais vista como entidade supra-orgânica, nem como superestrutura. A cultura diz respeito às coisas do cotidiano, comuns, apreendidas na vida diária, na família, no trabalho e no ambiente local. As idéias, habilidades, linguagem, relações em geral, propósitos e significados comuns a um grupo social são elaborados e reelaborados a partir da experiência, contatos e descobertas – tudo isto é cultura.

A cultura pode ser vista, também, como o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou comportamento natural, a soma total dos modos de vida construídos por um grupo de seres humanos e transmitidos de uma geração para outra, ser considerada uma propriedade ou atributo inerente aos seres humanos, ou ainda ser meramente um artifício intelectual para generalizar convenientemente a respeito de atitudes e comportamentos humanos (WAGNER e MIKESELL, 2003).

A noção de cultura não considera indivíduos isolados ou as características pessoais que possam possuir, mas comunidades de pessoas que ocupam um espaço determinado, amplo e geralmente contínuo. Assim, a cultura está assentada em uma base geográfica. Dessa maneira, a Geografia Cultural é a aplicação da idéia de cultura aos problemas geográficos, os aspectos da Terra, em particular aqueles produzidos ou modificados pela ação do homem (sociedade). Distingue, descreve e classifica os complexos típicos de aspectos ambientais, incluindo aqueles realizados pelo homem, que coincidem com cada comunidade cultural, considerando-os como paisagens culturais e procurando origens na história cultural. Assim, a cultura ao produzir e reproduzir o espaço deixa a sua marca visível, o resultado material da interação do homem com o meio: a paisagem ou a paisagem cultural.

Qualquer cultura é limitada em sua capacidade de transformar o habitat por meio de conhecimento técnico, administração e organização institucional, preferências, proibições, etc. “O geógrafo cultural não está preocupado em explicar o funcionamento interno da cultura [...], mas avaliar o potencial técnico de comunidades humanas para usar e modificar seus habitats” (WAGNER e MIKESELL, 2003, p. 31).

As pesquisas em Geografia Cultural se dão através da investigação sobre a distribuição passada e presente de características da cultura, que constitui a base para o reconhecimento e as delimitações de áreas culturais. A área cultural implica uma uniformidade relativa ao invés de absoluta. A similaridade cultural relativa aparece em diferentes graus, desde a identidade virtual de atitudes e aptidões em num pequeno território até semelhanças gerais ou ampla disseminação de características individuais ou elementos da cultura em grandes áreas (WAGNER e MIKESELL, 2003, p. 32). Em termos geográficos, uma área cultural pode constituir uma região, forma uma unidade definível no espaço, caracterizada pela relativa homogeneidade interna com referência a certos critérios. A associação típica de características geográficas concretas numa região ou em qualquer outra subdivisão espacial da superfície terrestre pode ser descrita como paisagem.

A paisagem, em seu conjunto, reúne esses fatores e adiciona à possibilidade de valores expressivos e de significação cultural, os mesmos podem compreender conteúdos estéticos e conotações significativas, havendo se constituído como um tema de inspiração para o homem.

Para Nassauer (1995), a cultura e a paisagem interagem em uma constante realimentação, na qual a cultura estrutura as paisagens e as paisagens incorporam a cultura. Há, por conseguinte, um feedback, em que a percepção do meio, através dos filtros da cultura, determina valores paisagísticos que são atribuídos a uma paisagem, que, por sua vez, podem ser modificados se houver uma mudança na paisagem. Essa dinâmica a ajuda explicar a estrutura da paisagem de duas maneiras: primeiro como um efeito da cultura, segundo como um produto das mudanças culturais.

Toda a paisagem somente é paisagem, quando é vista, sentida e percebida. Não podemos lembrar ou descrever alguma paisagem que nunca tenhamos visto, mesmo por intermédio de algum artifício (filme, fotografia, desenho, pintura, etc.). Então, a paisagem somente existe na relação do homem com o meio. E essa relação é sempre repleta de significados que são influenciados pela cultura de um determinado lugar e seu povo. Nesse caso, os estudos da paisagem como texto podem descrever os significados da ação humana sobre o processo histórico de sua formação e sua percepção..

Pode-se comparar a percepção da paisagem a um sistema de “filtros” e relacionar esses filtros como se fossem a lente de uma câmara fotográfica. Tenta mostrar que a significação individual da paisagem depende de múltiplos fatores, dentre eles estão os culturais.


Cada indivíduo tem a sua concepção a respeito da paisagem e, sendo o indivíduo parte de uma sociedade que tem sua cultura distinta, cada cultura tem, então, o seu ideal de paisagem. E essa paisagem vai também refletir esse ideal, que juntamente com outros fatores vão influenciar na percepção da paisagem. Assim, qualquer estudo dessa natureza que não inclua a questão cultural em sua análise poderá resultar incompleto, sem um componente indispensável: o homem e a sua ação no espaço.

Assim, é importante que se inclua nesses estudos da interação homem/meio, sociedade/natureza, o estudo das paisagens culturais, pois essas consideram não apenas os atores, mas também as ações que elaboraram e continuam a elaborar as paisagens (WAGNER e MIKESELL, 2003, p. 46).

Hoje em dia, não se pode negar a relação entre cultura e urbano. Mas, nem sempre foi assim, pois até, ao final da década de 1960, não era esse o “objeto” de estudo dos geógrafos, que se debruçavam sobre as pesquisas relacionadas ao urbano. Somente a partir do início dos anos 70, começa a se entender essa imbricação. Segundo Corrêa (2003, p. 167), "o urbano pode ser analisado sobre diversas dimensões que se interpenetram. A dimensão cultural é uma delas. Por seu intermédio amplia-se a compreensão da sociedade em termos econômicos, sociais e políticos, assim como se tornam inteligíveis as espacialidades e temporalidades expressas na cidade, na rede urbana e no processo urbano”.

Sendo assim, os geógrafos passaram a perceber a dimensão cultural do urbano, em que essa relação passa a ser mais valorizada e problematizada, coincidindo com “as transformações em curso na sociedade, que se torna mais urbana e multicultural [...]” (CORRÊA, 2003, p. 168).

O urbano está repleto de significações culturais, desde a forma de organização e de uso do solo, nas suas materialidades, que são expressas em suas construções (ruas, casas, avenidas, edifícios, praças, parques, monumentos, etc.) ou nas suas relações econômicas e sociais, redes técnicas e informacionais (SANTOS, 2002, p. 263). Pode-se dizer também que a cidade abriga atualmente um contigente majoritário da população, e os interesses individuais são contraditórios. No espaço urbano, os diferentes interesses, relacionados à ocupação e uso do solo, estão repletos dessas contradições (CARLOS, 2005, p. 42). Santos (2002 p. 78) diz que “através do trabalho, o homem exerce a ação sobre a natureza, isto é, sobre o meio, ele muda a si mesmo, sua natureza intima, ao mesmo tempo em que modifica a natureza externa”. E como a paisagem é a materialização do processo relacional homem/meio, a paisagem urbana tem, sem dúvidas, esse significado.

Corrêa (2002, p. 175) diz que, mesmo não se encerrando as possibilidades temáticas, as relações entre cultura e urbano podem se manifestar de diferentes modos. Mas ele relaciona aqui três dessas manifestações. Primeiro, a toponímia e identidade que, segundo Corrêa, “constitui-se em relevante marca cultural e expressa uma efetiva apropriação do espaço por um dado grupo cultural” (p. 176). Segundo, a cidade e a produção de formas simbólicas, “sendo que, em parte, por meio das formas simbólicas é que a cidade expressa uma dada cultura e realiza o seu papel de transformação cultural” (p. 177). E, em terceiro, a paisagem urbana e seus significados, sendo esta que “constitui-se em importante temática, tendo atraído a atenção dos geógrafos [...]” (p. 179).

Até a década se 1960, o foco central dos estudos da paisagem estava na sua morfologia, sendo a contribuição de Sauer, em seu artigo, já referido, The Morfology of Landscape, uma das mais importantes nesse sentido. A partir do final da década de 1970, Corrêa (2003, p. 179) sublinha que diversos autores, entre eles Meinig (1979), introduzem, nos estudos da paisagem, a interpretação. Assim, pode-se dizer que, a paisagem urbana é um campo rico para a interpretação, permitindo “múltiplas leituras a partir de diversos contextos históricos-culturais, envolvendo diferenças sociais, poder, crenças e valores”. Portanto, a paisagem urbana é repleta de signos e símbolos, e seus significados podem ter inúmeros sentidos.

Partindo-se do pressuposto que a paisagem urbana é o produto e a materialização do trabalho social, ela está profundamente impregnada de relações sociais e conflitos (CORRÊA, 2003, p. 181), e é constantemente ressignificada, para que possa viabilizar a circulação do capital. Na paisagem urbana, evidenciado, dessa forma, um valor simbólico, “repositório de símbolos de classes sociais e de herança étnica”. Essa dialética está presente nas diferenças das paisagens urbanas, tanto internamente, nas zonas residenciais populares e de classes mais abastadas, “que se justapõem, superpõem, contrapõem no uso da cidade” (SANTOS, 2002, p. 326), quanto externamente, nas diferenças entre as cidades.

Assim, os diferentes grupos sociais, que ocupam áreas distintas das cidades e/ou cidades diferentes, irão produzir, de acordo com o seu modo de vida e de ocupação do solo, diferentes formas e diferentes paisagens no espaço urbano. Essas diferentes paisagens serão percebidas de inúmeras maneiras e com distintos significados, pois cada indivíduo “enxerga” a paisagem através dos seus “filtros”, dentre os quais o filtro da cultura.

A ÁGUA NA PAISAGEM URBANA

Nas áreas urbanas, a percepção da água na paisagem tende a ser mais intuitiva e/ou subjetiva, pois o processo de urbanização que ocorre na maioria das cidades brasileiras e no mundo tratou de canalizar e esconder os cursos d’água, que geralmente servirão para escoar o esgoto de seus moradores e das indústrias ali instaladas. E, ao adotar a premissa de que as paisagens urbanas se formam a partir das relações entre as pessoas, o território e os processos naturais, podemos dizer que são paisagens culturais, transformando-se no tempo e no espaço. Essa transformação tende, em muitos casos, a não levar em consideração a relação homem/natureza. Para Costa (2002), “tem-se que destacar a importância do design paisagístico , da percepção e acessibilidade pública aos seus rios”. A acessibilidade também pode ser obtida através da visibilidade da paisagem, pois, como esta autora, acreditamos que o acesso visual propicia um comportamento ambientalmente responsável em relação à água no espaço urbano.

Nas cidades, devido à efetiva impermeabilização dos solos pela ocupação imobiliária, pelas vias de transporte e pelo material utilizado nas canalizações, há pouca ou nenhuma realimentação do lençol freático e dos cursos d’água pela chuva, transformando-os exclusivamente em redes de esgotos. No atual processo de urbanização, a característica natural da rede de drenagem é totalmente modificada, assim como a vegetação natural é degradada ou suprimida, o relevo alterado e, até mesmo, a relação do homem com o seu meio sofre influência desse processo.

Somente nas periferias das cidades é que ainda existem redes de drenagem não canalizadas. Mas, nesses locais, os pequenos cursos d’água, sofrem com o despejo contínuo de esgotos e lixo, decorrentes da “quase total inexistência de uma política de uso e ocupação do solo” (RANGEL, 2002, p. 20).

Nas periferias das cidades, onde ocorre a expansão urbana, esta se dá, em grande parte, em áreas impróprias ou de forma inadequada, tendo-se como conseqüência inúmeros problemas ao meio físico, à própria população assentada e aos poderes públicos responsáveis pelos serviços de infra-estrutura nessas áreas.

Tem-se como premissa a ser estudada que as populações desses locais dificilmente percebem os problemas ambientais de onde vivem e não têm consciência de que são responsáveis por esse ambiente, pois estão demasiadamente envolvidas na sua própria subsistência. Essas populações sofrem com a degradação ambiental, mas já estão “acostumadas” ao lugar. A sua paisagem já foi totalmente modificada. O solo, a vegetação e, principalmente, a água já estão seriamente comprometidos.

É preciso entender como se dá o processo de percepção da paisagem pelas populações locais e, principalmente, a percepção da água na paisagem. É importante entender como os diversos grupos sociais a percebem e como é a sua relação com os conflitos inseridos no seu espaço. Pois, para se efetuar qualquer estudo geográfico a respeito da percepção da paisagem, visando a implementação de medidas mitigadoras ou de reorganização do espaço urbano e de ocupação territorial, tem-se que entender como é que as pessoas sentem e entendem o lugar em que vivem, se esperam alguma mudança e quais as mudanças que querem que sejam implementadas para melhorar a sua qualidade de vida.

Não se pode tratar dos impactos ambientais relacionados a qualidade dos recursos hídricos em áreas urbanas de forma isolada. A comunidade científica tem por cacoete compartimentar o estudo da água. No entanto, “a água precisa ser pensada enquanto inscrição da sociedade na natureza, com todas as contradições implicadas no processo de apropriação da natureza pelos homens e mulheres por meio das relações sociais e de poder” (PORTO-GONÇALVES, 2004, p.152). Segundo este autor, “o ciclo da água não é externo à sociedade ele a contém com todas as suas contradições”.

O presente processo de intensificação da urbanização da sociedade afeta cada vez mais os corpos d’água e a sua qualidade, assim como implica uma maior demanda por água. Essa contradição é motivo de conflitos de uso. A final, “um habitante urbano consome em média três vezes mais água do que um habitante rural” (p.153). Outro ponto a ser destacado é que a água está sendo trazida de mananciais cada vez mais distantes, pois as fontes para o abastecimento nos grandes centros estão inviabilizadas pela crescente poluição.

Mas, como se pode, através do estudo da percepção da paisagem, saber que um dos seus elementos, nesse caso a água, está degradado? E como é que a população pode, através de sua percepção, propor melhorias na qualidade do espaço urbano e da água na paisagem?

Propõe-se então, como referencial para os estudos que pretendam avaliar a percepção da água na paisagem urbana, a comparação entre a percepção da paisagem e da água na paisagem pela população local, com as análises físico-químicas dos cursos d’água. Desta maneira, pode-se saber como está a saúde da rede hídrica na realidade e, de outra forma, como é percebida esta realidade pela população. Assim então, a partir dessa comparação, se terá subsídios para futuras intervenções na paisagem urbana, que tenham o objetivo qualifica-la, assim como qualificar as paisagens onde a água está inserida.

E, tendo como o objetivo central da pesquisa, a qualificação da paisagem urbana, considerando a água inserida nesta paisagem

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERQUE, A. (1998). Paisagem-marca, paisagem-matriz: elementos da problemática para uma geografia cultural. In: CORRÊA, R. L. e ROSENDAHL, Z. Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: Ed. UERJ. p. 84-91.

BERTRAND, G. (1968). Paysage et géographie physique globale. Esquisse méthodologique. In: Toulouse: Revue géographique des Pyrénnées et du SO, 39(2), p.249-72.

CARLOS, A. F. A. (2005). A cidade. São Paulo: Contexto. 98 p.

CORRÊA, R. L. e ROSENDAHL, Z. (1995) Espaço e Cultura. Rio de Janeiro: ed.uerj/ NEPEC. p.

_________. e _________. (Orgs.). (2002) Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 224 p.

__________, R. L. (2003) O espaço urbano. São Paulo: Ática. 94 p.

BERINGUIER, C. e BERINGUIER, P. (1991). Manieres paysageres une methode d’etude, des pratiques. In: GEODOC.Toulouse: Univesité de Toulouse. p. 5-25.

COSGROVE, D. E. e JACKSON, P. (2003.) Novos rumos da Geografia Cultural In: Introdução à Geografia Cultural. CORRÊA, R. L. e ROSENDAHL, Z. (Orgs.) Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 224 p.

HUOAISS. A. (2007). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva. 3008 p.

LEFF, H. (2006) Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 555 p.

NASSAUER, J. I. (1995). Culture and changing landscape estructure. In: Landscape Ecology v. 10 n. 4 p. 229-237, Amsterdam: SPB Academic Publishing bv.

SANTOS, M. (2002). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp. 384 p.

WAGNER, P. e MIKESELL, M. (2003). Temas em geografia cultural. In: Introdução à Geografia Cultural. CORRÊA, R. L. e ROSENDAHL, Z. (Orgs.) Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 224 p.

Desastres naturais custaram “um Brasil” à economia mundial apenas no século 21



Desastres naturais apenas no século XXI já custaram à economia global o equivalente ao PIB do Brasil.

Dados divulgados pela ONU apontam que a repercussão econômica de desastres está subestimada e que o que vem sendo publicado é apenas uma parte das consequências de terremotos, furacões e enchentes. No total, o impacto chegaria a US$ 2,5 trilhões apenas nos 13 primeiros anos do século.


As informações revelam (leia AQUI)  , segundo os especialistas, a importância do setor privado em se preparar para ciclones e outros fenômenos naturais. Apesar ter seguros contra danos em fábricas ou produção não seria suficiente, já que o impacto indireto pode ser a perda de mercados por conta de uma interrupção prolongada.

Segundo a ONU, apenas ciclones e terremotos deixam um prejuizo anual de US$ 180 bilhões ao mundo desde 2000, enquanto a pesquisa mostra que apenas uma a cada seis empresas multinacionais tem planos de garantir uma produção ininterrupta em caso de desastre natural.

“Os custos dos desastres estão fora de controle”, declarou o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon. “Mas isso é inaceitável, já que o mundo tem o conhecimento suficiente para reduzir as perdas”, alertou.

O que preocupa os especialistas é que a conta dos desastres tem apenas aumentado. Isso porque, nos últimos 20 anos, multinacionais tem optado por diversificar sua produção e sair em busca de locais onde a mão de obra seria mais barata. O prolema é que esses são os locais também menos preparados para enfrentar desastres naturais.

Segundo as estimativas, 4,3% do PIB global está situado em regiões que com frequência são afetadas por ciclones tropicais.

Para países em desenvolvimento, esses desastres tem sido fatais para suas economias. Em Moçambique, as perdas com o clima em 2011 foram superiores aos investimentos externos recebidos pelo país naquele ano.

Na avaliação dos especialistas, investimentos em reduzir riscos podem ser a solução. Um dos exemplos foi o caso da operadora de energia da Nova Zelândia, a Orion, que investiu US$ 6 milhões em um plano contra terremotos. Quando o desastre ocorreu em Christchurch, a empresa economizou US$ 65 milhões.

Daniel Dantas: O dono do Brasil?



É simplesmente impressionante a influência do banqueiro Daniel Dantas. Filho de tradicional e rica familia nordestina, e tido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como "gênio". Ele está presente na história recente do Brasil, desde ser colaborador do governo Collor, nas privatizações da telefonia, entre outras falcatruas. Em 2008 foi preso na Operação Satiagraha, tentem imaginar seu poder, obteve dois Habeas Corpus, dado pelo Ministro do STF, Gilmar Mendes, em menos de 24 horas. Uma façanha inigualável.

Dantas, quando estava preso pela segunda vez, teria dito ao delegado Protógenes Queiroz, num recado endereçado aos políticos e governantes brasileiros em geral, que ia contar tudo o que sabia, tudo sobre suas relações com a política, com os partidos, com os políticos, com os candidatos, com o Congresso, sobre suas relações com a Justiça, sobre como corrompeu juízes, desembargadores, sobre quem foi comprado na imprensa, sobre como pagou um milhão e meio para não ser preso pela Polícia Federal em 2004: "vou contar tudo sobre todos." O que ocasionou o segundo Habeas Corpus.
Poderíamos ficar aqui discorrendo sobre as inúmeras façanhas a que ele está (ou esteve) ligado, mas a última foi em relação a MP dos portos, votada ontem e aprovada na Câmara Federal. Esta medida, inoportuna para Dantas, que opera o Porto de Santos. 

Dantas possui um time de trinta advogados trabalhando para não deixá-lo ir em cana.

Também é um latifundiário e, nesta condição, o departamento jurídico da Comissão Pastoral da Terra - CPT da Diocese de Marabá (leia AQUI), acaba de concluir um estudo, realizado em 4 das mais de 50 fazendas pertencentes ao Grupo Santa Bárbara, do banqueiro Daniel Dantas, o qual aponta que 71,81 % da área que compõe os quatro imóveis é composta por terras públicas federais e estaduais.

O estudo foi feito nas fazendas: Cedro e Itacaiúnas (localizadas no município de Marabá), Castanhais e Ceita Corê (localizadas nos municípios de Sapucaia e Xinguara). Os quatro imóveis juntos, possuem uma área total de 35.512 hectares e de acordo com o levantamento feito, desse total, 25.504 hectares não há qualquer comprovação documental de que tenha havido o regular destaque do patrimônio público para o particular, ou seja, mais de 2/3 da área é constituída de terras públicas federais e estaduais.

...

Nos últimos 5 anos, seguranças e pistoleiros do Grupo Santa Bárbara, já assassinaram um trabalhador sem terra e feriram à bala outros 33, nas ocupações em suas fazendas. O Grupo tem sido também, frequentemente, denunciado por despejo ilegal, uso de veneno pulverizado por avião, contratação de pistoleiros e uso ilegal de armas de fogo, com o objetivo de expulsar as famílias que ocupam 5 de suas mais de 50 fazendas na região.


Outra façanha, mesmo sendo uma das figuras mais "influentes" do País, seu nome e sua cara, não aparecem na mídia. Ele é poupado e escondido, quase ninguém sabe quem é ele mas, mesmo assim, sua influência no centro do poder e quase que infinita, compra juízes e parlamentares que o defendem, ele e suas pretenções.

Será ele o dono do Brasil?

Se não é, está bem próximo disso.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Crise do capitalismo mundial: Europa entra oficialmento em recessão


As notícias não são nada boas para os europeus. A situação econômica da Europa em declínio, faz com que aumente o desemprego e o desânimo.

Segundo o G1, a Eurozona começou 2013 em recessão, após a queda de 0,2% do PIB no primeiro trimestre, segundo anunciou nesta quarta-feira (15), segundo a Eurostat, agência europeia de estatísticas.

É a primeira estimativa do resultado do PIB neste ano, dando sequência aos índices ruins registrados desde o segundo trimestre de 2012.

A recessão técnica é definida pelos economistas como dois trimestres consecutivos de queda no PIB – dois períodos em que a soma das riquezas produzidas pelo país fica menor do que nos três meses anteriores.

A Alemanha, maior economia do bloco, registrou nos três primeiros meses do ano um leve crescimento de 0,1% (depois de fechar 2012 com queda de 0,7%), enquanto a França, segunda economia da zona do euro, registrou retrocesso de 0,2% e entrou oficialmente em recessão - no quarto trimestre do ano passado, o recuo foi de 0,2%.

Os dados são piores que os previstos pelos analistas entrevistados pela agência Dow Jones Newswires, que esperavam uma leve recuperação de 0,1% do PIB, após um retrocesso de 0,6% no último trimestre de 2012.

A Espanha registrou contração de 0,5% no primeiro trimestre de 2013 e permanece em recessão, situação na qual o país se encontra desde o fim de 2011.

No último trimestre de 2012, a economia espanhola registrou queda de 0,8%.

A Itália também registrou contração de 0,5% no período, após recuo de 0,9% no trimestre imediatamente anterior.

Portugal, por sua vez, registrou recuo de 0,3%, ante queda de 1,8% no quatro trimestre de 2012.

Pois é, como disse um dia James Carville, então estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton contra George H. W. Bush, presidente dos Estados Unidos na época.

"É a economia, estúpido"

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Drama de gaúcho: Somos iguais a todos ou mais uma fraude no RS.


Me criei escutando que nós, gaúchos, eramos diferentes, pois eramos os mais honestos que o "resto" dos brasileiros. Que nossas orígens gaudérias, nos tornam melhores do que os outros.

Mas agora uma triste realidade surgiu:

Temos os mesmos erros e acertos que os outros brasileiros.

Pois além da fraude das Licenças Ambientais (leia AQUI), mais um escândalo de repercussão nacional, vem para confirmar que nós, nascidos ao sul do rio Mampituba, somos imaculados. 

A deflagração da operação Leite Compensado por parte do Ministério Público nesta quarta-feira (8) gerou apreensão entre os consumidores gaúchos. O MP identificou um esquema de adulteração de leite através da inclusão de água e de uma mistura de ureia e formol no produto.

O crime era cometido pelas transportadoras que levavam o leite dos produtores às empresas que beneficiam e comercializam a mercadoria. Por conta disso, o MP interditou lotes vendidos pelas marcas Italac Integral, Italac Semidesnatado, Líder/Bom Gosto UHT Integral, Mumu UHT Integral e Latvida UHT Desnatado.

As interdições ocorreram para que os produtos adulterados não chegassem mais às prateleiras dos supermercados, mas técnicos da área e promotores do Ministério Público afirmam que as empresas foram vítimas da fraude, não cúmplices. Apesar da ressalva, as autoridades frisam que as empresas deveriam ter detectado a adulteração do leite e que precisam melhorar seus mecanismos de controle de qualidade.

Mais uma fraude, um crime, até pode-se dizer, um assassinato, pois os pordutos químicos adicionados ao leite, podem causar câncer e até a morte dos consumidores.

Uma triste realidade.

Vejam bem até onde vai a ganância