quinta-feira, 14 de março de 2013

Urbanidade: 'Cidades como São Paulo são Frankenstein'



O crescimento desordenado das grandes (e até da médias e pequenas) cidades brasileiras, trás problemas insolúveis e conflitos insuperáveis. Os interesses dos incorporadores e construtores, que sem o mínimo cuidade ao ambiente urbano, estão a provocar o caos.

Vemos a cada ano, principalmente no sudeste, que Rio, São Paulo e Minas, durante a épocas das chuvas, tem suas cidades seriamente abaladas. Enchentes, desabamentos de encostas, causam danos e mortes. A impermeabilização do solo, por exemplo, torna a circulação em dias de chuva, impossível. Além disso, os prédios constrídos atualmente, seguem uma tendência mundial "moderna" que é desprovida de beleza estética, com prédios quese que iguais.

No capitalismo, nada sobrevive ao lucro.

Veja o que pensa o arquiteto carioca João Filgueiras Lima, o Lelé, foi contemporâneo de Oscar Niemeyer e mudou-se para Brasília para ajudá-lo a projetar e construir a cidade no fim da década de 1950. Nessa entrevista para o Estadão (leia AQUI)

Hoje morando em Salvador, esteve em São Paulo na terça-feira, 12, para divulgar seu último livro, Uma experiência na área da saúde, no Museu da Casa Brasileia, Lelé falou ao Estado sobre o mau gosto na arquitetura de hoje e a falta de planejamento que piorou a qualidade de vida nas metrópoles. "As cidades são um grande Frankenstein."

Como você enxerga o crescimento das cidade hoje?

Há um descontrole geral. Hoje em dia tudo é imagem, e os prédios e as cidades refletem isso. A arquitetura privilegia as fachadas, o prédio tem de ser diferente. Em Salvador tem um shopping de cimento que resolveram simplesmente revestir de vidro. É essa coisa do envelopamento que nasceu na Alemanha, para a Alemanha oriental se parecer com a ocidental.

Você acha que os prédios novos estão ficando todos iguais?

Não sei se iguais, mas tem um mau gosto aí. Tem a questão da moda que cria essa linguagem, até mesmo para os prédios. Eles têm de se vestir daquela forma, todos iguais, para ficar na moda. E os arquitetos, para sobreviver, vão a reboque dessas pressões. Então são indiretamente culpados. Mas a sociedade também manda. Estamos em um ciclo vicioso.

Fala-se muito na pressão do mercado imobiliário, que se defende alegando que as pessoas precisam ter onde morar...

Todo mundo quer morar onde convém e o mercado se aproveita disso para fazer um adensamento descomprometido com a cidade. Você adensa áreas e cria problemas em outras. Imagine um corpo humano, todos os órgãos têm de estar integrados. De repente alguém diz 'ah, vamos fazer aqui um coração enorme!' Não adianta, o peito vai estourar porque o coração é muito grande.

Mais planejamento urbano faria as cidade mais harmoniosas?

Não tem mais como planejar. Uma cidade é feita de relações, da integração entre prédios vizinhos, mas isso não é mais prioridade. As cidades estão se desintegrando. O arquiteto pode até se preocupar, mas a cidade não oferece mais solução. Veja a Cidade do México, São Paulo. São cidades insolúveis. Estão sempre tentando resolver problemas imediatos, que às vezes duram um pouco, mas em sua maioria são soluções efêmeras.

As ações do poder público são fragmentadas?

Sim, cada um pensando na sua gaveta. Isso decorre de um mundo cada vez mais especializado. Veja na medicina, a figura do clínico praticamente desapareceu. O arquiteto deveria ser o clínico da cidade. No entanto, não tem uma visão global e as obras viram um Frankenstein. A cidade é o maior Frankenstein de todos.

Também há uma diferença entre a cidade vista no centro e a cidade da periferia...

Sim, evidentemente, quando os gastos com imagem ficam proibitivos aí se revela outro tipo de arquitetura, pobre, sem interesse tecnológico, desprovida de integração e beleza. Quando a gente sai dos centros das cidades e vai para áreas mais pobres são dois mundos diferentes, que convivem de uma maneira terrível.

O senhor vê alguma cidade brasileira que seja um modelo de crescimento?

Não, porque todas elas sofrem esse tipo de pressão do adensamento, feita pelo mercado imobiliário. A questão do automóvel é que se tornou um problema sério. Curitiba, na época do Jaime Lerner (arquiteto, ex-prefeito da cidade), investiu em transporte público, virou referência. Mas hoje já tem problemas. Vejo ações setorizadas que parecem eficientes, como o BRT (Bus Rapid Transit) da Barra da Tijuca, no Rio. Mas só serve àquele setor, não é uma coisa integrada.

terça-feira, 12 de março de 2013

O “assassinato” de Hugo Chávez

Pergunta do jornalista Kennedy Alencar numa entrevista com o presidente venezuelano mostrou como é inverossímil que um homem que até aquele maio de 2010 era extremamente saudável tenha levado escassos um ano e nove meses para morrer... (Leia AQUI)

Na noite do último domingo, o jornalista Kennedy Alencar, em seu programa na Rede TV!, o É notícia, reapresentou entrevista que fez com o ex-presidente Hugo Chávez em maio de 2010, há menos de três anos. Entrevista que eu inclusive havia assistido, mas da qual logicamente não me lembrava e que agora nos traz a possibilidade de analisar muito melhor a suspeita externada pelo presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, de que o seu falecido líder possa ter sido assassinado por seus inimigos políticos, possivelmente pelo maior deles, os Estados Unidos – ou, ao menos, pelo governo estadunidense.


A entrevista é riquíssima e permite entender muito melhor um homem que há mais de uma década vem tendo a sua imagem deturpada – muitas vezes de forma literalmente criminosa –, o que contribuiu para que prolifere neste país um dos piores tratamentos jornalísticos e políticos que se viu no mundo à morte daquele que, goste-se dele ou não, já ingressou nos anais da história como um dos líderes políticos mais importantes que a humanidade já conheceu e sobre quem, de concreto – extirpando especulações –, só se pode dizer que tirou milhões de venezuelanos do inferno e os levou, na pior das hipóteses, ao purgatório.

Contudo, há que destacar que, nos primeiros momentos da entrevista, pergunta que o jornalista Kennedy Alencar – o qual respeito e admiro por um trabalho da maior seriedade – fez ao hoje falecido Chávez me fez estremecer até os ossos porque mostrou como é inverossímil que um homem que até aquele maio de 2010 era extremamente saudável tenha levado, entre o diagnóstico da doença em junho de 2011 e seu trágico desenlace em março de 2013, escassos um ano e nove meses para morrer.

Perguntas e respostas da entrevista permitem compor um conceito sobre o estado físico desse homem que foi liquidado de forma tão fulminante pelo câncer que chega a espantar até pela comparação com casos recentes – e incrivelmente coincidentes – de outros líderes sul-americanos que foram acometidos pelo mesmo mal e que conseguiram diagnosticá-lo a tempo e, assim, sobreviveram. Surge a dúvida, então, sobre por que um líder político que cuidava tanto da própria saúde também não pôde ser salvo.

Aos 6 minutos e 40 segundos do primeiro bloco da entrevista que este blog reproduz a seguir parte a parte, em três partes, o entrevistador inquire o entrevistado sobre sua saúde. Confira, abaixo, a transcrição daquele trecho da entrevista.

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Kennedy Alencar – O senhor toma algum cuidado especial com a sua saúde, evita comer algum tipo de alimento, faz exercícios?

Hugo Chávez – Sim, muito mesmo. Primeiro, fui esportista a vida toda. Jogava e ainda jogo beisebol, softball. Bom, sou um soldado. Estive em batalhões de combate, de paraquedistas, sempre treinando e mantendo uma boa forma física. Ainda costumo fazer isso. Eu gosto, sabe? A gente relaxa muito correndo, nas barras, fazendo exercício. Mantendo mais ou menos um peso aceitável para a minha idade, para as responsabilidades, para uma boa saúde. Faço dieta sempre, estou em dieta permanente. Tento não comer muita gordura, nem esse tipo de alimentos que geram colesterol, obesidade. Eu me cuido e sou cuidado, pois isso é uma obrigação, parte das tarefas e do trabalho que temos.

KA – É verdade ou é um mito que o senhor, quando viaja, leva sua própria comida por questões de segurança?

HC – Não só por motivos de segurança. Além disso, é uma dieta. É preparada segundo um controle médico com as proteínas e calorias reguladas. Mas também por motivos de segurança.

KA – O senhor fuma?

HC – Às vezes. Já fui fumante. Fui fumante principalmente na prisão, nas longas horas da prisão. Mas agora posso dizer que não fumo. Às vezes, de vez em quando, quando alguém pega um cigarro... Mas não, não sou fumante. E não aconselho para ninguém, faz mal à saúde

[...]

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Chávez certamente estava em melhor forma física do que Lula, do que Dilma Rousseff, do que Cristina Kirchner, do que Fernando Lugo e do que a grande maioria dos cidadãos comuns ou não que contraíram cânceres no mesmo período após diagnóstico precoce que tanto o venezuelano quanto qualquer um dos outros lograram fazer da moléstia insidiosa que os acometeu. Diante disso tudo, há que fazer algumas indagações:

1 – Por que Chávez foi levado como uma folha ao vento pela doença, então?

2 – Alguém com um mínimo de honestidade pode negar que há alguma coisa estranha no processo que ceifou a vida do ex-presidente da Venezuela?

3 – Os suspeitos mais evidentes de um eventual envenenamento de Chávez devido ao longo histórico que têm de mandarem assassinar seus inimigos políticos, os Estados Unidos – que, não nos esqueçamos, são a maior potência tecnológica do planeta – teriam tecnologia para causar uma doença fulminante em um ser vivo?

4 – Não chega a ser ridículo achar que os EUA não disponham dessa tecnologia ou que, dispondo dela, não a usariam contra alguém que os incomodava tanto e que não poderiam simplesmente fazer sucumbir sob suas bombas?

Antes ou depois de refletir sobre essas questões, porém, se você não assistiu à entrevista em tela, recomendo fortemente que assista. Ela mostra Chávez sem interpretações de terceiros e, mais do que isso, mostra um outro lado dessa história que quem só se informa pela grande mídia brasileira certamente desconhece.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Morre um lutador: A esquerda perde Hugo Chaves


A morte de Hugo Chaves, sem dúvidas, cria um grande vácuo na esquerda latino-americana. Ao mesmo tempo amado e odiado, ele for responsável pelas grandes transformações socias que mudaram a Venezuela. A Revolução Bolivariana.

Tido pela direita como um ditador, Hugo Chaves e a Venezuela, sempre mostraram o contrário, com muitas eleições ao longo dos seus mandatos como presidente daquele país. Inclusive, para legitimar a sua permanência, chamou um plebicito para saber se o povo queria ou não que ele deixasse o poder.

Resultado: Ele ficou.

Temo pela Venezuela. Sempre na mira dos Estados Unidos, pelas grandes reservas de petróleo que possui, que em outras oportunidades já haviam insuflado golpes contra Hugo Chaves, podem agora se aproveitar do momento.

Pode ser coincidência ou "teoria da pressegução" mas vejam bem, quantos presidentes latino-americanos, de esquerda, já foram acometidos pelo câncer?

Chaves, Lula, Dilma, Lugo... todos passaram por problemas de saúde semelhante... será que não foram envenenados ou algo assim, pelos poderosos.

Pode ser devaneio, sei lá.

Mas nesse momento, paira sobre a Venezuela, a incerteza. O vice de Chaves, Nícolas Maduro, não deu chances para especulações e já chamou nova eleição para daqui um mês.

Resta saber se o chavismo vencerá, ou os concervadores pró EUA, levarão a melhor.

Adeus Chaves.