quarta-feira, 28 de março de 2007

Especialistas dão idéias para bom uso da água


É preciso adotar novos métodos para a irrigação, que consome 70% dos recursos hídricos. Apesar de ser o setor que mais consome água, a agricultura de irrigação tende a crescer de 15 a 20% nos próximos 30 anos, atendendo à demanda por mais alimentos de uma população projetada em 8 bilhões de pessoas, além de responder à demanda econômica por produtos agrícolas de maior valor agregado. Um adulto precisa de 4 litros d'água por dia para beber, mas para produzir seu alimento diário são necessários de 2 a 5 mil litros.


Na média mundial, cerca de 70% dos recursos hídricos hoje disponíveis são destinados à irrigação, ante 20% para a indústria e menos de 10% para abastecimento da população (higiene e consumo direto). Nos países desenvolvidos, o percentual de uso da água para irrigação é ainda maior, chegando perto dos 80%. Mas, mesmo lá, apenas 1% das áreas irrigadas adotam o método de gotejamento, um dos mais eficientes na relação alimento por litro de água usada, uma vez que reduz a possibilidade de evaporação, como explica Sandra Postel, diretora do projeto Global Water Policy, de Massachusetts. `Se a agricultura conseguir aumentar a produtividade da água, a pressão sobre os preciosos recursos hídricos pode ser reduzida e a água seria liberada para outros setores`, afirma Kenji Yoshinaga, diretor da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO).


Pelos cálculos de Yoshinaga, a simples melhora de 1% na eficiência do uso da água de irrigação, nos países em desenvolvimento de clima árido, significaria economia de 200 mil litros de água, por agricultor, por hectare/ano. O suficiente para matar a sede de 150 pessoas no período. Ele diz, ainda, que as áreas irrigadas nos países em desenvolvimento devem aumentar dos atuais 202 para 242 milhões de hectares. Nos desenvolvidos, o total irrigado fica em torno de 50 milhões de hectares, mas o potencial de expansão é menor, porque a agricultura já é intensificada. Por isso, a escolha da tecnologia adequada e de métodos de irrigação que evitam o desperdício é fundamental para atender à demanda por alimentos com o mínimo de impacto ambiental. Em muitos perímetros irrigados, a baixa qualidade das águas de superfície levou os agricultores a optar pelas subterrâneas. Porém, o uso descontrolado está levando ao rebaixamento dos aqüíferos, em alguns casos no impressionante ritmo de 1 a 3 metros por ano. Para evitar problemas, a FAO sugere a adoção de tecnologias mais eficientes do que a tradicional inundação de campos ou o uso de aspersores e pivô central (os dois métodos mais utilizados no Brasil). (Liana John)

Fonte: Jornal Hoje (Rede Globo de Televisão) Data: 20/03/2003 Perdas no Brasil atinge 46% da água coletada Para os especialistas, além de evitar a poluição que ameaça as reservas, é preciso investir no reuso da água e acabar com o desperdício, que só no Brasil atinge 46% da água coletada. São Paulo está cercada por rios e represas. Mas a ocupação desordenada e a poluição vão minando as reservas. O Brasil não utiliza nem metade da água potável disponível no país. Mas a grande vilã ainda não é a poluição. Ela perde, de longe, para o desperdício. Quase 30% da água já tratada vai para o ralo dentro do próprio sistema de abastecimento: tubulações antigas, vazamentos e falta de manutenção. Outro tanto se perde na cultura do desperdício. Da mangueira de jardim ao vaso sanitário. `É comum se utilizar em uma descarga 20 litros, quando se poderia utilizar uma caixa acoplada com seis ou quatro litros apenas` - disse o engenheiro ambiental Ivanildo Hespanhol. Uma saída seria reaproveitar as sobras. Em uma casa em Sorocaba, interior de São Paulo, toda água já utilizada passa por um tratamento e vai para uma caixa d’água separada. `Essa caixa d’água serve todos os vasos sanitários e as torneiras de limpeza da casa` - explicou o dono da casa André Rubini Sobanski. O sistema permitiu a economia de oito mil litros por mês, quarenta por cento do consumo da casa. Uma solução que poderia existir em larga escala. No sistema de reuso, o esgoto passa por um tratamento semelhante ao da água potável. O líquido final pode ser utilizado em serviço de limpeza e na indústria e custa três vezes menos. Em uma fábrica de São Paulo é com água reaproveitada que são tingidas toneladas de fios e linhas de costura. A economia na conta foi de 70%. `Ë claro que o custo dela é muito inferior. Então, estamos trabalhando nesse sentido, preservando o meio ambiente e também reduzindo os custos da empresa` - falou o gerente da empresa Mário Alves Rodrigues. Por enquanto, a água reutilizada só é fornecida para empresas e prefeituras do Estado de São Paulo. Para que o uso fosse geral seria necessária uma rede própria de abastecimento. Um futuro inevitável. `A parcimônia no uso da água e o reuso são palavras chaves hoje. Nós temos que imediatamente começar a aplicar` - falou Hespanhol.