Estamos exaurindo a Terra: a prata boliviana está acabando
Carmelo Ticona (leia AQUI) é um boliviano de 28 anos, e sabe que lhe resta pouco tempo de vida. Morador da cidade de Potosi, família pobre, ele não teve escolha: adotou, ainda adolescente, a profissão que, no fim das contas, era seu destino certo e inadiável, a mineração.
Apesar de seguir uma tradição familiar, a busca de riqueza não é o seu objetivo; a falta de oportunidades é o que está em pauta. Mas Carmelo tem consciência do que resulta lutar, dentro das minas, pela sobrevivência: uma morte prematura. "Sei que posso morrer a qualquer momento, em algum acidente ou com a [doença pulmonar] silicose. É o destino do mineiro. Nós não vivemos muito", diz, resignado.
Tanto na ocupação como na lucidez, Carmelo não está sozinho. Ele integra uma legião de, aproximadamente, 13 mil mineiros, que, hoje, vasculham as entranhas da montanha-símbolo de Potosi - e também da Bolívia. Eles trabalham dentro do Cerro Rico. Foi aos pés desse enorme cone de pedra que, em 1545, o pastor de lhamas Diego Huallpa viu aflorar, à luz da fogueira, uma pequena quantidade de terra prateada.
Não demorou para que os espanhóis, na condição de colonizadores, começassem a ordenar diversas escavações. A extensão das reservas argentíferas que eles encontraram pode ser medido pela quantidade de prata que extraíram. Segundo documentos da Casa da Moeda de Potosi, entre 1545 e 1825 - ano em que a Bolívia conquistou sua independência -, tirou-se da montanha aproximadamente 35 mil toneladas do nobre metal.
Embora tenha sido, entre os séculos 16 e 17, uma das principais fontes de riqueza da Coroa Espanhola na América, Potosi é hoje a capital do Estado mais miserável da Bolívia - que, por sua vez, é o país mais pobre da América do Sul.
Com a prata exaurida, carente de indústrias e situado a quatro mil metros acima do nível do mar, a única coisa que o lugar ostenta atualmente são dados estatísticos alarmantes.
Esta é ó resumo de 500 anos de exploração continuada da prata. O metal está escasso e caro. No Brasil, o estoque de prata era principalmente extraído, não de minas, mas de negativos de filmes fotográficos e de chapas de raio X, saturadas com Nitrato de Prata. Com a adoção de câmeras digitais, os filmes estão quase extintos, até mesmo o famoso Kodacolor, que serviu a grandes fotógrafos no mundo inteiro, hoje não é mais fabricado.
Mas não é somente a prata que está em extinção na natureza, muitos outros recursos que levaram milhões de anos para se formarem, hoje são raros e se tornaram fonte de disputa.
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