segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Estado x tráfico: uma guerra por espaços


Não pude escrever sobre a guerra urbana que se abateu sobre a Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil, o que faço agora. Uma guerra que já deveria ter sido travada a muito mais tempo. Durante décadas, governo a pós governo, o Estado fez vista grossa ao que ocorria no espaço urbano, a sua transformação e a ocupação dos morros, pela total falta de investimetos em habitação em áreas com infra-estrutura adequada aos assentamentos humanos. Restou para a população pobre, quem não tinha recursos para comprar um lote urbanizado, ocupar o que lhe restou, a favela.

Sem moradia, educação, saúde e emprego, muito destes pobres, por falta de opção, caíram na clandestinidade. Como sabemos, de alguma forma, todos precisam comer e viver. O Tráfico, para uma parcela desta população, foi a saída. Como também sabemos, somente há tráfico quando há consumo. Juntou-se a fome e a vontade de comer.

Como o Estado, omisso, deixou a favela a sua própria sorte, os traficantes ocuparam o espaço deixado. Ele pagava a conta de quem não tem dinheiro, o médico de quem precisa, em fim, o Robin Hood.

Agora, décadas depois, o Estado se viu quase que refém (ou refém) dos marginais (muitos deles por falta de opção) e o confronto se dá, agora, de forma violenta e cruel. As comunidades assistem num mixto de horror e alívio, as forças do Estado ocupando os espaços antes de propriedade do tráfico.

Junto a toda esta ação necessária, a mídia (novamente a mídia) se aproveita para espetacularizar aquilo que é vergonha para toda a sociedade bresileira. Sim, é impresindível estas ações sejam divulgadas, mas a cobertura da grande imprensa, parece um daqueles programas de fim de tarde, onde a desgraça é o elemento principal, chegando até mesmo a atrapalhar a ação das forças de segurança.

Hoje, com as comunidades ocupadas pelo Estado, resta saber o que se fará daqui prá frente. Como se pode ver, as Unidades de Polícia Pacificadoras, as UPPs, retomaram territórios antes ocupados pelo tráfico, um fato que foi fundamental para desencadear a revolta que resultou nesta gurra urbana. E será esta uma saída? Mas com certeza, além das UPPs, a urbanização e a melhoria da qualidade de vida destas populações com mais emprego, renda, moradias decentes e infra-estrutura, são ponto chave para manter a vida do morro mais tranquila. O tráfico, com certeza, não vai acabar, pois a lei de mercado diz que onde há procura há oferta.

Mas como está, não pode ficar.

Espero que o Estado consiga se impôr, para o bem de todos.

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