segunda-feira, 28 de junho de 2010

Dinheiro não é tudo: catástrofes ambientais não se pagam

O vazamento de petróleo no Golfo do México chegou pela primeira vez à costa do Mississipi, após dez semanas do acidente em uma plataforma da companhia British Petroleum (BP). No sábado, funcionários do governo de Mississipi tiveram a péssima visão de vestígios de água misturada a petróleo e bolas de alcatrão em várias praias do Estado. “Até agora estávamos salvos. Mas não mais. Esta é nossa primeira penetração significativa de petróleo na costa,” disse Dan Turner, secretário de imprensa do governador Haley Barbour. Os ventos e as ondas provocadas pela tempestade tropical Alex (que ainda pode virar um furacão) complicaram ainda mais as operações de limpeza da maré de petróleo, resultante da explosão da plataforma da BP que deixou 11 mortos e desencadeou a pior catástrofe ambiental da história dos Estados Unidos.

A British Petroleum anunciou nesta segunda-feira que os gastos relacionados com a catástrofe ambiental no Golfo do México já somam US$ 2,65 bilhões de dólares. Este valor inclui o conjunto dos gastos realizados para conter e impar o petróleo derramado, a perfuração de poços de emergência, as indenizações pagas aos estados atingidos e ao governo dos EUA pelos danos já causados. O grupo inglês reconheceu que é muito cedo ainda para calcular o custo final da catástrofe. Segundo informou o jornal New York Times, além da tragédia ambiental, o acidente deve provocar também o agravamento do desemprego na região do Golfo do México, atingindo pescadores, funcionários do setor hoteleiro e milhares de trabalhadores do setor petrolífero.

O governo de Barack Obama estabeleceu uma moratória de seis meses nas perfurações no Golfo do México, medida que, até agora, já deixou 32 plataformas ociosas. Os proprietários de equipamentos que prestam serviços a essas plataformas estão procurando clientes em outras partes do mundo. O governo dos EUA e a British Petroleum anunciaram a criação de um fundo de US$ 100 milhões para compensar os trabalhadores atingidos pela moratória na exploração de petróleo na região. No entanto, segundo várias analistas, essa quantia é insignificante perto das potenciais perdas econômicas resultantes do acidente. O impacto econômico total da moratória ainda é incerto, observa o NYT, uma vez que as demissões estão apenas começando e ninguém sabe exatamente qual será sua extensão.

As implicações políticas e econômicas da catástrofe foram discutidas na reunião de cúpula do G-20, realizada neste final semana em Toronto (Canadá), pelo presidente dos EUA, Barack Obama, e pelo primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron. Os dois dirigentes concordaram que a British Petroleum deve assumir os custos do trabalho de limpeza e das compensações pelos danos causados. O executivo-chefe da BP, Tony Hayward, viajou a Moscou para conversar com o presidente russo Dmitri Mevdeved e dar garantias de que a empresa não está à beira da falência por causa do acidente no Golfo do México. A preocupação russa com a saúde financeira da BP deve-se ao fato de que a empresa concentra um quarto de sua produção mundial neste país.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tentou diminuir nesta segunda-feira a dimensão da tragédia. “Não viemos aqui para condenar a BP pelo incidente”, disse em Bruxelas o secretário-geral da OPEP, Abdalla Salem El-Badri. “Não posso admitir que a BP nos tenha dado má reputação”, acrescentou El-Badri, defendendo que é preciso esperar pela conclusão das investigações sobre a causa do acidente da plataforma marítima da British Petroleum. As empresas petrolíferas parecem mais preocupadas com sua reputação e com a continuidade dos negócios da exploração de petróleo no mar do que com as conseqüências ambientais que devem ser trágicas e de longo alcance no tempo e no espaço. O comissário de Energia europeu fez uma daquelas promessas que ilustram o ditado: “porta arrombada, tranca de ferro”. O alemão Günther Oettinger assegurou que serão tomadas “todas as medidas necessárias para melhorar a segurança”.

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