terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma breve reflexão: Até quando vamos endeusar a revolução farroupilha?


O 20 de setembro passou mas, todos os anos é a mesma coisa, os "gaudérios" invadem o Parque da Harmonia, em Porto Alegre, para instalarem o tal Acampamento Farroupilha. No início, a mais de dez anos, o pessoal chegava uns dois, três dias antes do desfile do 20 de setembro, acampava no parque e, depois do desfile, "bora-bora" prá casa.

Atualmente é um abuso. Chgam no final de agosto e somente vão embora no início de outubro.

Dois meses no parque... os animais que alí têm seu habitat, a vegetação, os abituais usuários do parque, todos, têm de dar lugar ao que eu hoje chamo de "Disneylândia gaudéria".

Ao invés de acampamento, hoje, é uma cidade, com "piquetes" de até três andares, empresas de todo o tipo estão lá, vazendo o seu merchandise... Tem empresas que, inclusive, de orígem estrangeira, se dizendo "gaúchas".

Neste ano, além de ocuparem novamente o Parque, privatizaram outras áreas da Orla do Guaíba, onde instalaram estacionamentos que cobravam a bagatela de R$ 15,00 por carro. Para onde foi o dinheiro? Será que reverteu alugum para a limpeza, pelo menos, do Parque?

Isso tudo e, ainda mais, é que Porto Alegre, NUNCA FOI FARRAPA... Ao contrário, recebeu do Império a condecoração de "mui leal e valorosa" que está estampado no seu brasão.

Sem falar, é claro, do grande embuste que é a tal "Revolução Farroupilha", onde os "gaudérios" comemoram heroicamente uma derrota. Sim, isso mesmo, uma derrota. A assinatura do Tratado de Ponche Verde, foi a rendição dos Frarrapos.

Mas vale apena ler o artigo de Juremir Machado no Correio do Povo (AQUI)

Até quando?

Todo os anos eu me pergunto: até quando?

Sim, até quando teremos de mentir ou omitir para não incomodar os poderosos individuais ou coletivos?

Até quando teremos que tapar o sol com a peneira para não ferir as suscetibilidades dos que homenageiam anualmente uma “revolução” que desconhecem? Até quando teremos de aliviar as críticas para não ofender os que, por não terem estudado História, acreditam que os farroupilhas foram idealistas, abolicionistas e republicanos desde sempre? Até quando teremos de fazer de conta que há dúvidas consistentes sobre a terrível traição aos negros em Porongos? Até quando teremos de justificar o horror com o argumento simplório de que eram os valores da época? Valores da traição, do escravismo, da infâmia?

Até quando fingiremos não saber que outros líderes – La Fayette, Bolívar, Rivera – outros países – Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia – e outras rebeliões brasileiras – A Balaiada, no Maranhão, por exemplo – foram mais progressistas e, contrariando “valores” da época, ousaram ir aonde os farroupilhas não foram por impossibilidade ideológica? Até quando a mídia terá de adular o conservadorismo e a ignorância para fidelizar sua “audiência”?

Até quando deixaremos de falar que milhões de homens sempre souberam da infâmia da escravidão? Os escravos. Até quando minimizaremos o fato de que a Farroupilha, com seu lema de “liberdade, igualdade e humanidade”, vendeu negros para se financiar? Até quando deixaremos de enfatizar que os farrapos prometiam liberdade aos negros dos adversários, mas não libertaram os seus? Até quando daremos pouca importância ao fato de que a Constituição farroupilha não previa a libertação dos escravos? Até quando deixaremos de contar em todas as escolas que Bento Gonçalves ao morrer, apenas dois anos depois do fim da guerra civil, deixou mais de 50 escravos aos seus herdeiros? Até quando?

Até quando?

Até quando adularemos os admiradores de um passado que não existiu somente porque as pessoas precisam de mitos e de razões para passar o tempo, reunir-se e vibrar em comum? Até quando os folcloristas sufocarão os historiadores? Até quando o mito falará mais alto do que a História? Até quando não se dirá nos jornais que os farroupilhas foram indenizados pelo Império com verbas secretas? Que brigaram pelo dinheiro? Que houve muita corrupção? Que Bento Gonçalves e Neto não eram republicanos quando começaram a rebelião? Que houve degola, sequestros, apropriação de bens alheios, execuções sumárias, saques, desvio de dinheiro, estupros, divisões internas por causa de tudo isso e processos judiciais?

Até quando, em nome de uma mitologia da identidade, teremos medo de desafiar os cultivadores da ilusão? Até quando historiadores como Décio Freitas, Mário Maestri, Sandra Pesavento, Tau Golin, Jorge Eusébio Assumpção, Spencer Leitman e tantos outros serão marginalizados? Até quando nossas crianças serão doutrinadas com cartilhas contando só meias verdades?

Até quando a rebelião dos proprietários será apresentada como uma revolução de todos? Até quando mentiremos para nós mesmos? Até quando precisaremos nos alimentar dessa ilusão?

Até quando viveremos assim?

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